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Atriz e ativista norte-americana Susan Sarandon discursou na manifestação a favor da Palestina no Washington Square Park




Publicado por Julio Cesar Silva

Sob chuva, a atriz e ativista norte-americana Susan Sarandon discursou na manifestação a favor da Palestina no Washington Square Park, em Nova York, neste sábado (2).

Para a multidão, ela fez duras críticas aos ataques israelenses aos civis em Gaza e Rafah e citou também as pessoas que fecham os olhos para a escalada do conflito no Oriente Médio.

“Nosso inimigo é o ódio, o racismo, a colonização. O inimigo é o silêncio de quem desvia o olhar. Falar verdades inconvenientes pode custar muito. Mas você não está sozinho. Ninguém é livre, até que todos nós sejamos livres. Palestina Livre!”, afirmou.

A atriz teve seu contrato recindido com a United Talent Agency (UTA) após uma sequência de discursos em defesa da população palestina no fim de 2023. Recentemente, Susan saiu em defesa das falas de Lula sobre o conflito em Gaza.

Confira o vídeo:


Postado em DCM


Devemos lembrar o discurso de Chaplin em "O Grande Ditador"



O discurso final de Chaplin no filme “O Grande Ditador” será sempre oportuno. É um apelo à humanidade, à decência e à recordação dos valores que nos permitem lutar contra a intolerância e a violência. Que tal lembrarmos disso?

Filmes de super-heróis com capas, poderes extraordinários que salvam o mundo e nos fazem sorrir com piadas fáceis são muito bons. Eles nos divertem e nos ajudam a não pensar em nada quando estamos exaustos de tantas voltas na vida. Porém, também é preciso resgatar de vez em quando aqueles títulos que a história do cinema nos deu no passado. Um exemplo é O Grande Ditador, de Charles Chaplin.

Tirar o pó dos clássicos não dói. Ao contrário, funciona como um maravilhoso exercício de cura. Além do mais, ao fazer isso, podemos descobrir fatos extraordinários. Há produções para as quais o tempo não passa e nos trazem mensagens de grande atualidade. O Grande Ditador é aquele filme que todo mundo deveria ver pelo menos uma vez por ano ao longo da vida.

O discurso daquele minúsculo barbeiro judeu que em determinado momento deve se passar por Hynkel (Hitler) se destaca não apenas como um dos momentos mais memoráveis do cinema. As palavras, ideias e mensagens que fazem parte desse final devem ser lembradas pelo propósito para o qual foram criadas: como antídoto contra a intolerância e a violência.

“Eu não quero ser imperador. Esse não é o meu trabalho, mas ajudar a todos, se possível. Branco ou preto, judeus ou gentios. Temos que ajudar uns aos outros. Seres humanos são assim. Queremos fazer os outros felizes, não nos deixar infelizes. Não queremos odiar ou desprezar ninguém. Neste mundo, há espaço para todos e o bom solo é rico e pode alimentar todos os seres. O caminho da vida pode ser livre e belo, mas nós o perdemos.”


As mensagens que Charles Chaplin nos deixou em seu discurso em O Grande Ditador podem ser aplicadas uma a uma aos nossos dias.

O discurso de Chaplin em “O Grande Ditador”: um legado indelével

Dizem que Charles Chaplin foi forçado a incluir um discurso no final de seu filme depois que Hitler invadiu a França. Era 24 de junho de 1940 quando ele gravou aquela sequência de quatro minutos em seus estúdios. Ele tinha uma forte necessidade de se pronunciar contra o fascismo e buscar, acima de tudo, a conexão emocional com o espectador, apelando para alguns valores muito firmes.

O mundo estava desabando, mas muitos esperavam com expectativa pelo mais recente filme de um dos grandes talentos do cinema cômico. E a verdade é que para o próprio Chaplin esse projeto foi um grande desafio. O Grande Ditador não foi apenas um filme que ridicularizou, atacou e tornou grotesca uma das figuras mais ameaçadoras da época.

Esta foi a primeira vez que Chaplin experimentou um diálogo. Aquela voz, que ele manteve escondida e que lhe deu sucesso com Charlot, teve que finalmente se manifestar para deixar uma mensagem indelével, para a qual o tempo nunca passará.

Você tem que acordar consciências adormecidas

O cinema tem mais poder do que podemos imaginar: ele espalha sensações e emoções comuns em milhões de pessoas. Deixa marcas, ideias que interiorizamos e memórias que não se apagam. O que o discurso de Chaplin em O Grande Ditador conseguiu foi unir milhões de pessoas em um mesmo sentimento, o do compromisso contra o ódio e a violência.

Deve-se notar que ninguém confiou muito nesse filme. Hollywood não deu sinal verde quando soube do roteiro em 1939. Naquela época, para os Estados Unidos, o mercado alemão ainda era relevante e cisto como uma ameaça. Não importava que o genocídio judeu já tivesse começado. Metade do mundo preferiu virar a cara para essa realidade.

No entanto, Charles Chaplin não hesitou em financiar seu projeto e mudar o final que havia planejado, dados os acontecimentos ocorridos em 1940. Essa mudança de última hora e aquele discurso que ele escreveu às pressas e com o coração pesado, teve seu resultado: despertou milhões de consciências.

Também no presente tendemos a dirigir o nosso olhar para realidades que exigem a nossa atenção e empenho. Injustiças e até grandes ditadores sobrevivem ao nosso redor com quase os mesmos ecos do passado que pensávamos esquecidos. Não podemos adormecer e relembrar a mensagem desse filme.

A ganância envenenou as almas dos homens, construiu uma barricada de ódio no mundo, levou-nos à miséria e ao derramamento de sangue como um passo de ganso. Desenvolvemos velocidade, mas travamos. A maquinaria que dá abundância nos deixou na miséria. Nosso conhecimento nos tornou cínicos. Nossa inteligência, dura e seca. Pensamos muito e sentimos muito pouco.

Mais do que máquinas, precisamos de humanidade

O discurso de Chaplin em O Grande Ditador já tem mais de oitenta anos e ainda hoje cabe milimetricamente na realidade. A referência ao fato de que a sociedade precisa de mais humanidade e menos maquinário nos convida a refletir. A tecnologia avançou muito mais desde o século XX e, assim como aconteceu então, tem seu lado positivo e seu lado destrutivo.

Por exemplo, as redes sociais nos aproximam e nos permitem espalhar informações, são uma arma poderosa, mas às vezes nos desumanizam. Muitas vezes se levantam como um canal que espalha o ódio, que discrimina e ataca quem é diferente. Mais que inteligência – apontou o barbeiro no filme -, precisamos de bondade e gentileza.


O discurso de Chaplin jamais expirará. Suas palavras contra ditadores, fascismo e desumanidade sempre serão necessárias.

Vamos continuar lutando por um mundo melhor

Nosso mundo percorreu um longo caminho desde aqueles anos em que as grandes potências estavam envolvidas em uma guerra mundial. No entanto, o progresso não o tornou um lugar melhor. Não basta afirmar que triunfamos como humanidade. Não somos mais éticos, a discriminação e a injustiça não desapareceram, e as guerras continuam a assolar nosso horizonte.

O discurso de Chaplin em O Grande Ditador permanece atemporal porque não resolvemos os problemas do passado. Nós os arrastamos conosco e lhes demos outras formas. Vivemos em um presente cada vez mais polarizado no qual a irracionalidade, o extremismo e até a violência escalam silenciosamente, quase sem que percebamos.

Vamos acordar, vamos continuar lutando por um mundo melhor, vamos apelar para a nossa humanidade, para ter esperança e ser esse antídoto comprometido com o absurdo do ódio.

Lutemos por um mundo novo, um mundo decente que dê ao homem a oportunidade de trabalhar, que dê um futuro à juventude e segurança na velhice. Pela promessa dessas coisas, os brutos subiram ao poder. Mas eles mentem! Eles não cumprem essa promessa. Eles nunca vão!




Bibliografia

Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. 

A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.

Chaplin, Charles— (1964). Mi Autobiografía. Nueva York: Simon & Schuster

Chaplin, Charles (1974). Mi vida en imágenes. Nueva York: Grosset & Dunlap

Hayes, Kevin J. (2005). Charlie Chaplin: Entrevistas . Jackson: Prensa de la Universidad de Mississippi.


Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

                          Última atualização: 18 dezembro, 2023




Discurso, emocionante e aplaudido de pé, feito pela Deputada Federal Erika Hilton contra os preconceitos às pessoas LGBTQIAPN+

 

Um dos discursos mais emocionantes do ano foi feito pela deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) durante sessão da Comissão de Previdência, Assistência Social, Adolescência e Família da Câmara que discutia o projeto que tenta criminalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A fala foi aplaudida de pé pela base do governo enquanto a oposição teve aceitar o brilhantismo do discurso.



Presidente Lula discursa na 78º Assembleia Geral da ONU em 19/09/2023





Lula conclama ONU a atuar pela paz e contra as desigualdades

247 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na 78ª Assembleia Geral da ONU, conclamou o órgão mundial a atuar pela paz e contra as desigualdades. Lula falou sobre a fome mundial, criticou o neoliberalismo e os países ricos pela falta de multilateralismo internacional e pela crise climática. Confira na íntegra.

Discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 78ª Assembleia da ONU
Meus cumprimentos ao Presidente da Assembleia Geral, Embaixador Dennis Francis, de Trinidad e Tobago.

É uma satisfação ser antecedido pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.

Saúdo cada um dos Chefes de Estado e de Governo e delegadas e delegados presentes.

Presto minha homenagem ao nosso compatriota Sérgio Vieira de Mello e 21 outros funcionários desta Organização, vítimas do brutal atentado em Bagdá, há 20 anos.

Desejo igualmente expressar minhas condolências às vítimas do terremoto no Marrocos e das tempestades que atingiram a Líbia.

A exemplo do que ocorreu recentemente no estado do Rio Grande do Sul no meu país, essas tragédias ceifam vidas e causam perdas irreparáveis.

Jovem indígena brasileira discursa na abertura da COP26






Ativistas da Amazônia estão na 26a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, que neste ano acontece em Glasgow, na Escócia.


Walelasoetxeige Suruí, conhecida como Txai Suruí, tem 24 anos e mora no estado de Rondônia, Brasil. É do povo Paiter Suruí e fundadora do Movimento da Juventude Indígena no estado. Txai é estudante de Direito e trabalha no departamento jurídico da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, entidade considerada referência em assuntos relacionados à causa indígena.

Ela também é uma jovem representante da Guardians of the Forest - uma aliança de comunidades que protege as florestas tropicais ao redor do mundo - e conselheira da Aliança Global “Amplificando Vozes para Ação Climática Justa”. Txai também tem atuado como voluntária da organização Engajamundo, e foi representante de seu povo na Conferência do Clima da ONU - COP25, em Madri.

Txai se tornou ativista desde cedo, inspirada pelos pais - o cacique Almir Suruí e a indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, conhecida como Neidinha Suruí. Também atuou no movimento estudantil, como primeira reitora indígena do Centro Acadêmico de Direito da Universidade Federal de Rondônia. Ela trabalha por uma floresta em pé, pelos direitos humanos e pela justiça ambiental e social para todos. Faz parte do Conselho Deliberativo do WWF-Brasil.

Senador Randolfe Rodrigues emocionou em seu discurso de encerramento da CPI da Pandemia

 




Senador Randolfe Rodrigues emocionou em seu discurso de encerramento da CPI da Pandemia

 




Não, Luther King não foi um líder da conciliação, mas um revolucionário



Vitor Paiva

Os inimigos da liberdade, da justiça, da igualdade e da paz bem sabem, em qualquer época ou lugar do mundo, que são os que advogam pela não-violência, pela união, pela resiliência e pela resistência pacífica os que podem realmente transformar o mundo – não é por acaso que são sempre esses os que acabam mortos. Entre tantos, foi assim com Gandhi e foi assim também com Martin Luther King Jr., que no dia 4 de abril de 1968, há 50 anos, encontrou seu destino no disparo de uma bala na varanda do motel Lorraine, em Memphis, nos EUA. A maior liderança do movimento pelos direitos civis nos EUA e um dos mais importantes nomes da luta contra o racismo em todos os tempos morria assassinado aos 39 anos.

Quis o acaso que Dr. King fosse morto no exato dia em que a poeta, atriz e ativista negra Maya Angelou, um dos mais importantes nomes da literatura e da militância nos EUA, completava 40 anos – Angelou, falecida em 2014, completaria hoje 90 anos. Se a poesia de Angelou permanece se encaixando com precisão e função à barbárie que rege uma sociedade ainda desigual, racista, e criminosa, ela também significa a força que ainda ecoa tanto da poeta como de King, um rei que fez de suas palavras e de sua própria vida a obra que perpetuamente iluminará os injustiçados e o povo negro.

“Você pode me fuzilar com as palavras
E me retalhar com o seu olhar
Pode me matar com o seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar”

Maya Angelou, Ainda Sim Eu Me Levanto



A poeta e ativista Maya Angelou, que hoje completaria 90 anos

Não estaremos errados se chamarmos Martin Luther King Jr. de um conciliador, mas também não estaremos sendo justos com sua luta: o reverendo era antes de tudo um revolucionário, que lutava pela transformação total da sociedade americana e do mundo. Não o fazia, no entanto, se valendo das armas mais velhas e óbvias – mas sim por uma revolução que em nada fomentasse o espírito  contra o qual ele justamente se opunha.




Martin Luther King tinha nas palavras sua pólvora, e não queria nem por um segundo se parecer com o opressor. “A maior fraqueza da violência é o fato de ser uma espiral descendente, engendrando aquilo que exatamente procura destruir. Ao invés de diminuir o mal, ela o multiplica. Através da violência você pode matar o mentiroso, mas não pode matar a mentira nem estabelecer a verdade”, ele disse.

Pois ao lado da premissa irrevogável da não-violência pela qual Dr. King agia, havia também a desobediência civil como conduta e método revolucionário – o reverendo fazia justiça aos ensinamentos cristãos que guiaram sua vida como poucos seguidores de Jesus o fizeram, ao resistir contra leis que pregavam a injustiça. Mais: a desobediência civil era para Martin Luther King uma maneira de declarar seu justo respeito pelas próprias leis. “Qualquer pessoa que descumpre uma lei injusta e aceita de bom grado a punição permanecendo preso para despertar a consciência da comunidade sobre a injustiça da lei está, nesse momento, expressando seu respeito máximo pelas leis”.



Dr. King em uma de suas 30 prisões


A história de sua vida já foi contada e recontada tantas vezes quanto ainda precisa ser lembrada e jamais esquecida. O teólogo, sociólogo e pastor protestante, que encontrara um Jesus humano, despido de tantos milagres e tornado um exemplo de vida (que deveria ser seguido por todos) não via a necessidade de poderes sobrenaturais que justificassem tais crenças. As palavras de King em sermões e principalmente em atos públicos contra o racismo e a segregação inspiraram milhões de negros e ativistas por todo o mundo, e as moveram ao entendimento de possibilidades e sonhos maiores e mais justos – a própria Maya Angelou engajou-se ativamente na luta ao lado de King e outros líderes como Malcom X nos anos 1960 e pelo resto da vida.




Tendo crescido no segregado sul dos EUA, a humilhação racial que ele, seus amigos e familiares enfrentaram no dia a dia moldou a depressão que marcou sua juventude, mas que se transformaria na força motora de sua vida adulta. Sua participação no boicote aos ônibus em Montgomery (depois que a jovem Claudette Colvin e Rosa Parks se recusaram a ceder seus lugares no transporte público, contrariando a lei que segregava negros de brancos dentro de tais veículos no sul dos EUA) seria, em 1955, o ponto de partida de sua luta.



Ao lado da mulher, Coretta Scott King, marchando em Selma


Foram tantas as campanhas capitaneadas por King e sua impressionante oratória nos 13 anos que se seguiram que a ilustração de sua resistência pode se dar pelas cerca de 30 vezes que o reverendo foi preso – sem jamais ter reagido com violência ou cometido um crime de fato.



Sendo preso e detido pela polícia em dois momentos diversos



As marchas na cidade de Selma, a oposição ferrenha à Guerra do Vietnã, até a campanha pelos pobres (que King organizava à época de sua morte) em nome da justiça econômica, são somente uma parcela da dedicação integral que ofereceu às lutas mais importantes, contra o racismo e a opressão do povo negro, e também pelos menos favorecidos. Enfrentar os séculos de escravidão, opressão e desigualdade, ofertando a própria vida em palavras era seu ofício.



Outra marcha em Selma

Em 28 de agosto de 1963, diante de mais de 250 mil pessoas (quando foi apresentado como “o líder moral da nação”) King participou da famosa Marcha em Washington por Trabalho e Liberdade. Diante do Memorial Lincoln, pelo fim da segregação racial em escolas públicas, por uma lei representativa de direitos civis, pela proibição da descriminação racial na seleção por trabalhos, pela proteção dos ativistas dos direitos civis contra a brutalidade policial, pelo aumento do salário mínimo para todos os trabalhadores, o reverendo pronunciou seu mais célebre discurso e um dos mais importantes em todos os tempos, que entraria para a história sob o título de “Eu Tenho um Sonho” – um discurso conciliador, mas que se inicia como uma contundente denúncia, que vale até hoje, e em especial para o Brasil.


“Cem anos depois [da abolição da escravidão] precisamos enfrentar o trágico fato de que o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro e ainda lamentavelmente aleijada pelas algemas da segregação e as correntes da discriminação. Cem anos depois, o negro vive em uma solitária ilha de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda se enfraquece nas esquinas da sociedade americana e se encontra exilado em sua própria terra”.
Só então é que Dr. King adentra a parte mais conhecida dessa sua célebre fala.
Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que ainda que enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda assim tenho um sonho. Eu tenho um sonho de que um dia essa nação irá se levantar e viver o verdadeiro sentido de sua crença: ‘Nós nos atemos a tais verdades como auto-evidentes: de que todas as pessoas são criadas iguais’. Eu tenho um sonho de quem um dia nas colinas vermelhas da Georgia os filhos de ex-escravos e os filhos de ex proprietários de escravos poderão se sentar juntos à mesa da irmandade (…). Eu tenho um sonho de que minhas quatro crianças um dia viverão em uma nação onde não haverá julgamento pela cor da pele mas pelo conteúdo do caráter. Eu tenho um sonho hoje. Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, com seus racistas perversos, meninos e meninas negras poderão dar as mãos a meninos e meninas brancas como irmãs e irmãos”.
E foi clamando pela liberdade que King concluiu seu discurso histórico em Washington.
“Quando permitirmos que a liberdade emane, quando permitirmos que emane de cada vila e cada povoado, de cada estado e cada cidade, nós seremos capazes de acelerar até o dia em que todas as crianças de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar as palavras da velha canção negra: ‘Enfim livres! Enfim livres! Obrigado, Deus todo poderoso, nós enfim somos livres!’”.

 

 


Sua atuação foi de tal forma determinante para que a Lei dos Direitos Civis fosse enfim assinada, em 02 de julho de 1964 – colocando fim aos sistemas estaduais de segregação oficial – que em outubro do mesmo ano King se tornaria o mais jovem vencedor do Prêmio Nobel da Paz, aos 35 anos. Quando de seu assassinato, em 1968, a Campanha Pelos Pobres que liderava visava o levante de um “exército multirracial de pobres” que iria marchar em Washington para se engajar em um imenso ato não-violento de desobediência civil até que o congresso criasse uma “Lei de direitos econômicos” para os americanos pobres. Além disso, a reconstrução das cidades pobres do país e o estabelecimento de leis que combatessem o “o racismo, a pobreza, o militarismo e o materialismo sistemáticos” e o boicote a uma série de empresas eram então suas pautas.



Lançando a “Campanha pelos Pobres”, em 1968, um mês antes de ser assassinado. O grande ato, porém, seria impedido por seu assassinato.



King entre outros ativistas na sacada do motel, instantes antes de ser assassinado


King foi morto na sacada do quarto 306 do motel Lorraine, em Memphis, quando se preparava para jantar – sua morte, no entanto, já não eclipsaria seus feitos, tendo inflamado a alma de tantos e iluminado para sempre as sombras da injustiça e a consciência racial da América negra – King já era muito maior do que a própria vida. Em seu último sermão, na noite anterior, o reverendo falou como um profeta sobre o destino que possivelmente o aguardava, conforme mostra o vídeo abaixo.


“Não sei o que ocorrerá agora. Temos dias difíceis à nossa frente […]. Como todo mundo, eu gostaria de ter uma vida longa […]. Mas isso agora não me preocupa. Só quero cumprir a vontade de Deus. E ele me permitiu subir ao topo da montanha. E de lá vi a terra prometida. Pode ser que não chegue a ela com vocês. Mas quero que esta noite saibam que nós, como povo, alcançaremos a terra prometida. E estou feliz por isso. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem”.

 


Pessoas apontam da onde o tiro havia vindo, enquanto Martin Luther King encontra-se morto ao chão (detalhe)

A morte de Martin Luther King Jr. provocou uma imensa onda de revoltas raciais nas principais cidades do país. Um ladrão e extremista branco recém fugido de um penitenciária chamado James Earl Ray, que dizia admirar Adolf Hitler e desejava uma “América toda branca” assumiu a autoria do crime, e acabou condenado a 99 anos de prisão. Ray cumpriu sua pena por 28 anos, até que, em 1998, veio a falecer na prisão. A controvérsia ao redor da autoria do crime, no entanto, jamais cessou.

Três dias depois de sua sentença, Ray desejou retirar a confissão, afirmando principalmente que sua confissão não significava, como a justiça apressadamente concluiu, que ele havia trabalhado sozinho. Ninguém que seriamente avalie o caso pode acreditar que um racista solitário foi realmente o único responsável pelo assassinato da maior liderança negra do século 20 – a própria família do reverendo afirmava que Ray havia sido usado em um esquema maior, que podia envolver até mesmo o governo americano. Coretta Scott King, esposa do Dr. King, defendeu até o fim da sua vida, em 2006, que o crime era parte de uma conspiração em alto nível. “A máfia local, agências de governos estaduais, federais estavam profundamente envolvidas no assassinato do meu marido”, disse.

Trata-se de um raro caso em que as teorias conspiratórias parecem muito mais razoáveis do que a versão oficial dos fatos. Martin Luther King era uma ameaça real ao establishment racista e elitista dos EUA, e às estruturas que até hoje mantém a desigualdade econômica e de direitos como um sistema regente das relações sociais, culturais e profissionais no mundo todo – e o fazia com a contundente e incontestável razão de quem não advoga pela violência, mas sim pela empatia, pela força, pela resistência e pela superação. Martin Luther King morreu como também morreu Gandhi e como também morreu a vereadora e ativista Marielle Franco recentemente: lutando de forma justa por uma causa igualmente justa em nome de um mundo realmente melhor para todos.




É o que perfeitamente traduz o poema de Maya Angelou, que por muitos anos não celebrou seu aniversário em luto pela morte de King. A vida do reverendo, porém, é que é celebrada todos os dias, e que permitiu que junto sejam também celebrados os 90 anos da poeta hoje – por conta da luta que ambos travaram, e ainda travam.



Maya Angelou


“Você queria me ver abatida?
cabeça baixa, olhar caído,
ombros curvados como lágrimas,
com a alma a gritar enfraquecida? (…)

Você pode me fuzilar com as palavras
E me retalhar com o seu olhar
Pode me matar com o seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar (…)

Das choças dessa história escandalosa
Eu me levanto

De um passado que se ancora doloroso
Eu me levanto

Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
Indo e vindo contra as marés eu me elevo
esquecendo noites de terror e medo
Eu me levanto

Numa luz incomumente clara de manhã cedo
Eu me levanto

Trazendo os dons dos meus antepassados
Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto”


Maya Angelou, Ainda Sim Eu Me Levanto


Postado em Hypeness


Tamika Mallory fez um discurso contundente e expôs o racismo institucionalizado em seu país, Estados Unidos, onde negros são mortos pela polícia todos os dias, resultado de uma política racista que visa exterminar os negros daquele país. O discurso foi pela morte de mais um homem negro, George Floyd, asfixiado após ter o pescoço prensado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis ( Minnesota ). O homicídio ocorreu em 25 de maio de 2020.





Não, Luther King não foi um líder da conciliação, mas um revolucionário



Vitor Paiva

Os inimigos da liberdade, da justiça, da igualdade e da paz bem sabem, em qualquer época ou lugar do mundo, que são os que advogam pela não-violência, pela união, pela resiliência e pela resistência pacífica os que podem realmente transformar o mundo – não é por acaso que são sempre esses os que acabam mortos. Entre tantos, foi assim com Gandhi e foi assim também com Martin Luther King Jr., que no dia 4 de abril de 1968, há 50 anos, encontrou seu destino no disparo de uma bala na varanda do motel Lorraine, em Memphis, nos EUA. A maior liderança do movimento pelos direitos civis nos EUA e um dos mais importantes nomes da luta contra o racismo em todos os tempos morria assassinado aos 39 anos.

Quis o acaso que Dr. King fosse morto no exato dia em que a poeta, atriz e ativista negra Maya Angelou, um dos mais importantes nomes da literatura e da militância nos EUA, completava 40 anos – Angelou, falecida em 2014, completaria hoje 90 anos. Se a poesia de Angelou permanece se encaixando com precisão e função à barbárie que rege uma sociedade ainda desigual, racista, e criminosa, ela também significa a força que ainda ecoa tanto da poeta como de King, um rei que fez de suas palavras e de sua própria vida a obra que perpetuamente iluminará os injustiçados e o povo negro.

“Você pode me fuzilar com as palavras
E me retalhar com o seu olhar
Pode me matar com o seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar”

Maya Angelou, Ainda Sim Eu Me Levanto



A poeta e ativista Maya Angelou, que hoje completaria 90 anos

Não estaremos errados se chamarmos Martin Luther King Jr. de um conciliador, mas também não estaremos sendo justos com sua luta: o reverendo era antes de tudo um revolucionário, que lutava pela transformação total da sociedade americana e do mundo. Não o fazia, no entanto, se valendo das armas mais velhas e óbvias – mas sim por uma revolução que em nada fomentasse o espírito  contra o qual ele justamente se opunha.




Martin Luther King tinha nas palavras sua pólvora, e não queria nem por um segundo se parecer com o opressor. “A maior fraqueza da violência é o fato de ser uma espiral descendente, engendrando aquilo que exatamente procura destruir. Ao invés de diminuir o mal, ela o multiplica. Através da violência você pode matar o mentiroso, mas não pode matar a mentira nem estabelecer a verdade”, ele disse.

Pois ao lado da premissa irrevogável da não-violência pela qual Dr. King agia, havia também a desobediência civil como conduta e método revolucionário – o reverendo fazia justiça aos ensinamentos cristãos que guiaram sua vida como poucos seguidores de Jesus o fizeram, ao resistir contra leis que pregavam a injustiça. Mais: a desobediência civil era para Martin Luther King uma maneira de declarar seu justo respeito pelas próprias leis. “Qualquer pessoa que descumpre uma lei injusta e aceita de bom grado a punição permanecendo preso para despertar a consciência da comunidade sobre a injustiça da lei está, nesse momento, expressando seu respeito máximo pelas leis”.



Dr. King em uma de suas 30 prisões


A história de sua vida já foi contada e recontada tantas vezes quanto ainda precisa ser lembrada e jamais esquecida. O teólogo, sociólogo e pastor protestante, que encontrara um Jesus humano, despido de tantos milagres e tornado um exemplo de vida (que deveria ser seguido por todos) não via a necessidade de poderes sobrenaturais que justificassem tais crenças. As palavras de King em sermões e principalmente em atos públicos contra o racismo e a segregação inspiraram milhões de negros e ativistas por todo o mundo, e as moveram ao entendimento de possibilidades e sonhos maiores e mais justos – a própria Maya Angelou engajou-se ativamente na luta ao lado de King e outros líderes como Malcom X nos anos 1960 e pelo resto da vida.




Tendo crescido no segregado sul dos EUA, a humilhação racial que ele, seus amigos e familiares enfrentaram no dia a dia moldou a depressão que marcou sua juventude, mas que se transformaria na força motora de sua vida adulta. Sua participação no boicote aos ônibus em Montgomery (depois que a jovem Claudette Colvin e Rosa Parks se recusaram a ceder seus lugares no transporte público, contrariando a lei que segregava negros de brancos dentro de tais veículos no sul dos EUA) seria, em 1955, o ponto de partida de sua luta.



Ao lado da mulher, Coretta Scott King, marchando em Selma


Foram tantas as campanhas capitaneadas por King e sua impressionante oratória nos 13 anos que se seguiram que a ilustração de sua resistência pode se dar pelas cerca de 30 vezes que o reverendo foi preso – sem jamais ter reagido com violência ou cometido um crime de fato.



Sendo preso e detido pela polícia em dois momentos diversos



As marchas na cidade de Selma, a oposição ferrenha à Guerra do Vietnã, até a campanha pelos pobres (que King organizava à época de sua morte) em nome da justiça econômica, são somente uma parcela da dedicação integral que ofereceu às lutas mais importantes, contra o racismo e a opressão do povo negro, e também pelos menos favorecidos. Enfrentar os séculos de escravidão, opressão e desigualdade, ofertando a própria vida em palavras era seu ofício.



Outra marcha em Selma

Em 28 de agosto de 1963, diante de mais de 250 mil pessoas (quando foi apresentado como “o líder moral da nação”) King participou da famosa Marcha em Washington por Trabalho e Liberdade. Diante do Memorial Lincoln, pelo fim da segregação racial em escolas públicas, por uma lei representativa de direitos civis, pela proibição da descriminação racial na seleção por trabalhos, pela proteção dos ativistas dos direitos civis contra a brutalidade policial, pelo aumento do salário mínimo para todos os trabalhadores, o reverendo pronunciou seu mais célebre discurso e um dos mais importantes em todos os tempos, que entraria para a história sob o título de “Eu Tenho um Sonho” – um discurso conciliador, mas que se inicia como uma contundente denúncia, que vale até hoje, e em especial para o Brasil.


“Cem anos depois [da abolição da escravidão] precisamos enfrentar o trágico fato de que o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro e ainda lamentavelmente aleijada pelas algemas da segregação e as correntes da discriminação. Cem anos depois, o negro vive em uma solitária ilha de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda se enfraquece nas esquinas da sociedade americana e se encontra exilado em sua própria terra”.
Só então é que Dr. King adentra a parte mais conhecida dessa sua célebre fala.
Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que ainda que enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda assim tenho um sonho. Eu tenho um sonho de que um dia essa nação irá se levantar e viver o verdadeiro sentido de sua crença: ‘Nós nos atemos a tais verdades como auto-evidentes: de que todas as pessoas são criadas iguais’. Eu tenho um sonho de quem um dia nas colinas vermelhas da Georgia os filhos de ex-escravos e os filhos de ex proprietários de escravos poderão se sentar juntos à mesa da irmandade (…). Eu tenho um sonho de que minhas quatro crianças um dia viverão em uma nação onde não haverá julgamento pela cor da pele mas pelo conteúdo do caráter. Eu tenho um sonho hoje. Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, com seus racistas perversos, meninos e meninas negras poderão dar as mãos a meninos e meninas brancas como irmãs e irmãos”.
E foi clamando pela liberdade que King concluiu seu discurso histórico em Washington.
“Quando permitirmos que a liberdade emane, quando permitirmos que emane de cada vila e cada povoado, de cada estado e cada cidade, nós seremos capazes de acelerar até o dia em que todas as crianças de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar as palavras da velha canção negra: ‘Enfim livres! Enfim livres! Obrigado, Deus todo poderoso, nós enfim somos livres!’”.

 

 


Sua atuação foi de tal forma determinante para que a Lei dos Direitos Civis fosse enfim assinada, em 02 de julho de 1964 – colocando fim aos sistemas estaduais de segregação oficial – que em outubro do mesmo ano King se tornaria o mais jovem vencedor do Prêmio Nobel da Paz, aos 35 anos. Quando de seu assassinato, em 1968, a Campanha Pelos Pobres que liderava visava o levante de um “exército multirracial de pobres” que iria marchar em Washington para se engajar em um imenso ato não-violento de desobediência civil até que o congresso criasse uma “Lei de direitos econômicos” para os americanos pobres. Além disso, a reconstrução das cidades pobres do país e o estabelecimento de leis que combatessem o “o racismo, a pobreza, o militarismo e o materialismo sistemáticos” e o boicote a uma série de empresas eram então suas pautas.



Lançando a “Campanha pelos Pobres”, em 1968, um mês antes de ser assassinado. O grande ato, porém, seria impedido por seu assassinato.



King entre outros ativistas na sacada do motel, instantes antes de ser assassinado


King foi morto na sacada do quarto 306 do motel Lorraine, em Memphis, quando se preparava para jantar – sua morte, no entanto, já não eclipsaria seus feitos, tendo inflamado a alma de tantos e iluminado para sempre as sombras da injustiça e a consciência racial da América negra – King já era muito maior do que a própria vida. Em seu último sermão, na noite anterior, o reverendo falou como um profeta sobre o destino que possivelmente o aguardava, conforme mostra o vídeo abaixo.


“Não sei o que ocorrerá agora. Temos dias difíceis à nossa frente […]. Como todo mundo, eu gostaria de ter uma vida longa […]. Mas isso agora não me preocupa. Só quero cumprir a vontade de Deus. E ele me permitiu subir ao topo da montanha. E de lá vi a terra prometida. Pode ser que não chegue a ela com vocês. Mas quero que esta noite saibam que nós, como povo, alcançaremos a terra prometida. E estou feliz por isso. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem”.

 


Pessoas apontam da onde o tiro havia vindo, enquanto Martin Luther King encontra-se morto ao chão (detalhe)

A morte de Martin Luther King Jr. provocou uma imensa onda de revoltas raciais nas principais cidades do país. Um ladrão e extremista branco recém fugido de um penitenciária chamado James Earl Ray, que dizia admirar Adolf Hitler e desejava uma “América toda branca” assumiu a autoria do crime, e acabou condenado a 99 anos de prisão. Ray cumpriu sua pena por 28 anos, até que, em 1998, veio a falecer na prisão. A controvérsia ao redor da autoria do crime, no entanto, jamais cessou.

Três dias depois de sua sentença, Ray desejou retirar a confissão, afirmando principalmente que sua confissão não significava, como a justiça apressadamente concluiu, que ele havia trabalhado sozinho. Ninguém que seriamente avalie o caso pode acreditar que um racista solitário foi realmente o único responsável pelo assassinato da maior liderança negra do século 20 – a própria família do reverendo afirmava que Ray havia sido usado em um esquema maior, que podia envolver até mesmo o governo americano. Coretta Scott King, esposa do Dr. King, defendeu até o fim da sua vida, em 2006, que o crime era parte de uma conspiração em alto nível. “A máfia local, agências de governos estaduais, federais estavam profundamente envolvidas no assassinato do meu marido”, disse.

Trata-se de um raro caso em que as teorias conspiratórias parecem muito mais razoáveis do que a versão oficial dos fatos. Martin Luther King era uma ameaça real ao establishment racista e elitista dos EUA, e às estruturas que até hoje mantém a desigualdade econômica e de direitos como um sistema regente das relações sociais, culturais e profissionais no mundo todo – e o fazia com a contundente e incontestável razão de quem não advoga pela violência, mas sim pela empatia, pela força, pela resistência e pela superação. Martin Luther King morreu como também morreu Gandhi e como também morreu a vereadora e ativista Marielle Franco recentemente: lutando de forma justa por uma causa igualmente justa em nome de um mundo realmente melhor para todos.




É o que perfeitamente traduz o poema de Maya Angelou, que por muitos anos não celebrou seu aniversário em luto pela morte de King. A vida do reverendo, porém, é que é celebrada todos os dias, e que permitiu que junto sejam também celebrados os 90 anos da poeta hoje – por conta da luta que ambos travaram, e ainda travam.



Maya Angelou


“Você queria me ver abatida?
cabeça baixa, olhar caído,
ombros curvados como lágrimas,
com a alma a gritar enfraquecida? (…)

Você pode me fuzilar com as palavras
E me retalhar com o seu olhar
Pode me matar com o seu ódio
Ainda assim, como ar, vou me levantar (…)

Das choças dessa história escandalosa
Eu me levanto

De um passado que se ancora doloroso
Eu me levanto

Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
Indo e vindo contra as marés eu me elevo
esquecendo noites de terror e medo
Eu me levanto

Numa luz incomumente clara de manhã cedo
Eu me levanto

Trazendo os dons dos meus antepassados
Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto”


Maya Angelou, Ainda Sim Eu Me Levanto


Postado em Hypeness


Tamika Mallory fez um discurso contundente e expôs o racismo institucionalizado em seu país, Estados Unidos, onde negros são mortos pela polícia todos os dias, resultado de uma política racista que visa exterminar os negros daquele país. O discurso foi pela morte de mais um homem negro, George Floyd, asfixiado após ter o pescoço prensado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis ( Minnesota ). O homicídio ocorreu em 25 de maio de 2020.





Leia a íntegra do discurso de Lula em Paris



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247 - O ex-presidente Lula recebeu nesta segunda-feira (2) o título de cidadão honorário de Paris pela prefeita Anne Hidalgo. Ele discursou sobre a emoção de receber a homenagem e falou da conjuntura política no Brasil.

Leia a íntegra do discurso:

“Senhora Anne Hidalgo,

Senhoras e senhores representantes do Conselho de Paris,

Minhas amigas e meus amigos,

Agradeço de coração o título que a cidade de Paris me concede, por meio de seus representantes. Agradeço especialmente à prefeita Anne Hidalgo, pela generosa indicação, e ao Conselho de Paris que a aprovou.

Este título teria de se estender, na realidade, às mulheres e homens que defendem a democracia e os direitos da pessoa humana, às brasileiras e brasileiros que lutam por um mundo melhor.

Receber este privilégio me emociona, primeiramente, porque a cidade de Paris é universalmente reconhecida como símbolo perpétuo dos Direitos do Homem e da mais elevada tradição de solidariedade aos perseguidos.

E me emociona de maneira especial porque foi concedido num dos momentos mais difíceis da nossa luta, quando me encontrava preso de forma ilegal, uma prisão política num processo que ainda não se encerrou.

Era o momento em que mais precisávamos da solidariedade internacional, para denunciar as injustiças que vinham sendo cometidas contra o povo brasileiro e as agressões ao estado de direito em meu país.

E o povo de Paris, como em tantas outras ocasiões, estendeu a nós sua proteção fraternal. Recordo-me de ter escrito, numa carta de agradecimento em outubro passado, que Paris estava rompendo o muro de silêncio que ocultava os crimes contra a democracia no Brasil.

Gostaria de estar nesta cidade libertária para simplesmente celebrar a fraternidade entre os povos e recordar os laços de solidariedade que nos unem ao longo da História. Afinal, sempre houve lugar para brasileiros e latino-americanos entre os lutadores da liberdade que Paris acolheu.

Mas é meu dever falar aqui em nome dos que sofrem, em meu país, com o desemprego e a pobreza, com a revogação de direitos históricos dos trabalhadores e a destruição das bases de um projeto de desenvolvimento sustentável, capaz de oferecer inclusão e oportunidades para todos.

É meu dever falar em nome de milhões de famílias de agricultores, das populações que vivem à margem dos rios e nas florestas, dos indígenas e dos povos da Amazônia, para denunciar a deliberada destruição das fontes de vida em nosso país, por causa das políticas irresponsáveis e criminosas de um governo que ameaça o planeta.

O que está ocorrendo no Brasil é o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático, estimulado pela ganância de uns poucos e por um desprezo mesquinho pelos direitos do povo; desprezo que tem raízes profundas, fincadas em 350 anos de escravagismo.

No período historicamente breve em que o Partido dos Trabalhadores governou o Brasil, muitos desses direitos foram colocados em prática pela primeira vez. Dentre eles, o direito fundamental de alimentar a família todos os dias, o que se tornou possível graças à combinação do Bolsa Família com outras políticas públicas, com a valorização do salário e a geração de empregos.

Temos especial orgulho de ter aberto as portas da Universidade para 4 milhões de jovens, na maioria negros, moradores da periferia e dos rincões mais isolados de nosso imenso país; quase sempre os primeiros a conquistar um diploma universitário em gerações de suas famílias.

Milhares desses jovens tiveram a oportunidade de estudar nas melhores universidades do mundo, graças a um programa da presidenta Dilma Rousseff. Certamente alguns deles se encontram em Paris.

Bastaram 13 anos de governos que olharam o povo em primeiro lugar, para começarmos a reverter a doença secular da desigualdade em nosso país.

Foram passos ainda pequenos para a dimensão do desafio, mas estávamos no caminho certo, porque 36 milhões saíram da pobreza extrema e o Brasil saiu do tristemente conhecido Mapa da Fome da ONU.

Este processo, ao longo do qual cometemos erros, certamente, porém muito mais acertos, foi interrompido em 2016 por um golpe parlamentar, sustentado por poderosos interesses econômicos e geopolíticos, com apoio de seus porta-vozes na mídia e em postos-chave das instituições.

Como sabem, a presidenta Dilma, uma mulher honrada, foi afastada pelo Congresso sem ter cometido crime nenhum, num processo em que as formalidades encobriram acusações vazias.

A este primeiro golpe contra a Constituição e a democracia, seguiu-se a farsa judicial em que fui condenado, também sem ter cometido crime algum, por um juiz que hoje é ministro do presidente que ele ajudou a eleger com minha prisão.

Quando a Justiça Eleitoral cassou minha candidatura, contrariando uma determinação da ONU baseada em tratados internacionais assinados pelo Brasil, lançamos a candidatura do companheiro Fernando Haddad.

Ele foi vítima de uma das mais perversas campanhas de mentiras por meio das redes sociais, disparadas e financiadas ilegalmente pelo adversário, num crime eleitoral que denunciamos e que até hoje, passados quase 18 meses, não foi julgado pelo tribunal competente.

O candidato que venceu aquelas eleições, dono de um histórico de ataques à democracia e aos direitos humanos, foi poupado pelas grandes redes de televisão de enfrentar em debates o companheiro Haddad. Essa mídia, portanto, é corresponsável pela ascensão de um presidente fascista ao governo do Brasil.

A triste situação em que se encontra meu país e o sofrimento do nosso povo são consequência de repetidos ataques, maiores e menores, ao estado de direito, à Constituição e à democracia.Se hoje estou aqui, num estado provisório de liberdade e ainda sem direitos políticos, é porque em novembro passado, num julgamento por maioria, o Supremo Tribunal Federal do Brasil reconheceu, para todos os cidadãos, o direito constitucional à presunção de inocência que havia sido negado ao cidadão Lula, às vésperas de minha prisão.

Aqui na Europa, quero me encontrar e agradecer a todos que nos apoiaram nesses momentos tão duros. Mas quero especialmente dialogar com os que trabalham para enfrentar a desigualdade, essa doença criada pelo homem e que está corroendo o próprio conceito de humanidade.

Quero compartilhar as políticas exitosas que tivemos no Brasil, conhecer a experiência, os projetos de outros países e dos que estudam e lutam contra a desigualdade no mundo.

No recente encontro que tive com Sua Santidade papa Francisco, fiquei contagiado pelo entusiasmo com que ele convoca os jovens economistas a debater e buscar saídas para essa questão, que é crucial para o presente e o futuro.

Quero propor aos dirigentes políticos, aos governantes e à sociedade civil dos mais diversos países que promovam, não apenas o debate, mas ações concretas em conjunto, para reverter a desigualdade.

Sei que é possível. Temos de ter fé na juventude, como tem o papa Francisco. Temos de ter fé na humanidade e na nossa capacidade de construir, pelo diálogo e pela política, as bases de um mundo mais justo.

Sei o quanto tem sido importante a solidariedade internacional, na Europa, nos Estados Unidos e ao redor do mundo, para que se restaure plenamente o processo democrático, o estado de direito e a justiça para todos em meu país. E mais uma vez agradeço, em nome dos que sofrem com a atual situação.

O povo de Paris me acolhe hoje entre seus cidadãos, como um reconhecimento pelo que fizemos, junto com tantos companheiros e com intensa participação social, para reduzir a desigualdade e combater a fome no Brasil.

Quero me despedir afirmando que nossa luta prosseguirá, com a participação de todos vocês, porque é a luta pela democracia, pela igualdade, pelos direitos dos desprotegidos, pela humanidade e pela paz.

Muito obrigado.”

Lula





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Lula em Paris


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