Vemos através do que somos. Se somos ódio, cegos de ódio seremos



Karen Curi

Você sente que o mundo está as avessas, que o mal sobrepõe o bem, que tudo é difícil e as tristezas são ilimitadas? Pois saiba que as dificuldades estão por aí em toda parte, rondando a sua casa, a minha e de mais um monte de gente. Quando menos esperamos algo nos tira do sossego, como se estivéssemos deitados sobre um tapete sendo subitamente sacudido. Todo mundo leva tranco. A diferença é o que cada um faz com ele.

Eu tenho certeza que você já ouviu falar sobre os diferentes pontos de vista, e é aí que eu quero chegar.

Se nos sentimos dispostos ou desanimados, realizados ou insatisfeitos. Se percebemos os erros e aprendemos junto com eles, ou simplesmente nos sentimos injustiçados e culpamos o outro. Se enxergamos os tropeços e damos graças às conquistas. Ou não. 

Tudo é reflexo do nosso olhar sobre a vida. É ele que determina o nosso sentimento e o que fazemos a respeito, se ruminamos a hostilidade, se proferimos a gratidão ou se somamos esperanças. Parece óbvio, né? Mas quando a vida nos sacode ninguém perde tempo para pensar em nada disso. Começa o discurso do injuriado. Procuramos logo culpar alguém e pagar na mesma moeda.

Talvez o nosso piloto automático esteja ligado em um modo de operação “devolver o ódio”, por isso não analisamos nada, nós simplesmente rebatemos.

Outra coisa. Temos a tendência de comparar-nos aos outros e achar que os nossos problemas são maiores, que a nossa dor é mais pungente, que o nosso buraco é mais fundo. Mas por quê? Ora, porque somos egocentristas por natureza. Isso é inegável. E não que seja algo ruim. Está apenas ligado à nossa percepção do mundo, que, claro, vem subsequente à visão própria.

Aquele que se assume infeliz porque diz não ter sorte, porque seus planos não se concretizam ou porque se sente perseguido, será que ele tem mesmo razão? Não será a forma de enxergar o problema que influencia a percepção e a reação sobre ele? Lembremos: Tudo é uma questão de ponto de vista.

Um mesmo fato é compreendido por diferentes maneiras. Há quem assimile o tombo como uma consequência, outros dizem que ele é predecessor, propulsor, promissor, uma forma de aprendizado, um sinal, e por aí vai.

Acontece que a nossa percepção está diretamente ligada ao que somos, às nossas crenças e ao que construímos ao longo dos anos. A afirmação de que todos nós precisamos de um espelho para nos lembrar quem somos é seminal. 

Porque somos o resultado das nossas colheitas e, se foram boas ou más, elas seguramente influenciarão o nosso juízo diante do novo. Vemos através do que somos. Se somos amor, veremos com amor. Se somos ódio, cegos de ódio seremos.

Os ciclos se abrem e se fecham, se puxam, somam, enredam uns nos outros. Se remoermos tristeza, atrairemos rancor. Assim como a esperança traz felicidade e a gratidão leva a paz. 

É o olhar que direciona a nossa perspectiva. Ele inicia uma cadeia de sentimentos e comanda todas as nossas ações. Se pararmos para enxergar o lado bom da vida seguramente reagiremos de forma positiva e os pesares ganharão certa leveza no decorrer do caminho.

No final das contas, tudo é lição e aprendizado. O ideal, apesar das sacudidas, é seguir adiante. 

Como disse Sartre: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.


Postado no Bula


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