Somos todos linchadores virtuais — ou vítimas


Além de serem espalhadas mais rapidamente, essas mensagens também atingem uma audiência maior


Marco Antonio Araújo

O fato é o seguinte: eu, você, nós estamos fazendo justiça pelas nossas próprias telas de computador, tablet ou celular. E precisamos parar com isso, urgentemente. Inocentes estão sendo linchados neste exato momento, sem direito a defesa.

Pare para pensar: seu comentário virulento, sua opinião apressada, sua curtida irresponsável podem estar destruindo a vida de alguém. Por algum mecanismo perverso, a internet criou uma horda de justiceiros virtuais que a cada instante, diante de cada notícia, decreta a morte de um ser humano, seja lá quem for. Estamos digitando com sangue nos olhos e ódio nas teclas.

O linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus não teria acontecido se não houvesse uma corrente de pessoas compartilhando o mal, o julgamento e a vingança.

Não foram apenas os pacatos cidadãos de Morrinhos que assassinaram de forma cruel aquela mulher. Muito antes de desferirem o primeiro golpe, ela (ou o próximo infeliz) já estava condenada. E outras pessoas, diariamente, estão sendo justiçadas sem que nem ao menos percebamos.

O primeiro sinal é o completo desprezo por figuras públicas. Se for político, então, é covardia: são todos ladrões, nenhum dele presta. Portanto, podemos acabar com todos que o mundo ficará melhor. 

Esse reducionismo, essa indigência mental vai sendo estendida para a celebridade fútil, o atleta incompetente e, logo ali, o anônimo que teve o azar de passar na frente de nosso implacável crivo virtual.

Há um bom tempo percebemos que a Internet facilita a manifestação da agressividade mais gratuita. Sempre fomos assim, violentos, tudo indica. 

Mas a sombra do anonimato, a aparente solidão do internauta criou um ambiente favorável a que nos expressemos sem nenhuma censura. E sem barreiras sociais, sem acordos, sem vigilância, nos tornamos apenas e somente animais egoístas e irracionais.

Estou colocando tudo no plural para não parecer arrogante. Obvio que existem pessoas sensatas, cordiais, justas e generosas. Prefiro acreditar, inclusive, que apenas uma minoria aja como linchadores e psicopatas.

Mas não custa prevenir: é melhor que todos nós sejamos responsáveis por essa evidente onda de intolerância. Até porque qualquer um de nós pode ser a próxima vítima.


Postado no blog O Provocador em 12/05/2014


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