Globo apóia Capriles e o golpe (alguma surpresa?)





Alexandre Haubrich

Nesta segunda-feira o Jornal Nacional, da Globo, abriu mão de noticiar o fato político mais importante do domingo para fazer coro com a direita golpista venezuelana e com o Departamento de Estado dos EUA.

A vitória de Nicolás Maduro na disputa pela presidência da Venezuela foi deixada em segundo plano para o principal telejornal da Rede Globo noticiar o desrespeito da oposição venezuelana e do governo estadunidense aos resultados eleitorais e dar espaço e legitimidade a esse discurso.

A relevância da primeira vitória da Revolução Bolivariana na Venezuela sem Chávez não foi levada em conta pelos critérios da Rede Globo.

A partir de quais critérios, já que os jornalísticos foram abandonados, foi feita a opção por destacar a posição dos derrotados?


A divisão temporal da matéria de Delis Ortiz, enviada a Caracas, demonstra o olhar escolhido, o olhar do grupo político antichavista coordenado por Henrique Capriles. 

O texto já começa deixando claro de que a matéria vai falar: “A praça onde a oposição costuma se reunir amanheceu tranquila”. Então a repórter fala sobre a pequena diferença percentual e segue reproduzindo o discurso derrotado pelo povo e pelas urnas: “a oposição denunciou fraude em várias seções eleitorais e exigiu uma nova apuração dos votos. 

Henrique Capriles disse que a Venezuela tinha um presidente ilegítimo”. Em seguida mostra instantes da referida fala de Capriles. O tempo total dessa primeira parte da matéria, toda ela falando sobre a oposição, é de 40 segundos.

Finalmente, depois de todo esse tempo de matéria, a repórter fala algo sobre o lado vitorioso: “enquanto a oposição reclamava a recontagem dos votos, o porta-voz do governo, o ministro das Comunicações Ernesto Villegas, convocava a militância chavista para o ato de proclamação de Nicolás Maduro como presidente eleito da Venezuela. 

E a concentração foi aqui, em frente ao Conselho Nacional Eleitoral”. Essa fala dura 19 segundos. Apenas um minuto e dez segundos depois de iniciada a matéria o nome de Maduro é citado pela primeira vez.

O momento seguinte da reportagem fala sobre as “reações internacionais”, o que para o Jornal Nacional quer dizer o Brasil, obviamente, e os Estados Unidos. 

Sendo que estes últimos, segundo a própria matéria, “disseram que a auditoria das eleições presidenciais venezuelanas seria importante e necessária”. O total desse trecho é de 25 segundos. Nada sobre o que falaram Evo Morales, Rafael Correa, Cristina Kirchner…

Depois de um minuto e 47 segundos, a repórter resolve enfim noticiar o fato: “E Maduro foi proclamado presidente eleito da Venezuela”. Segue uma frase do presidente. Esse trecho dura 13 segundos.

Por fim, “Apesar do anúncio do Conselho Eleitoral, manifestantes fizeram protestos contra o resultado, e houve confrontos com a polícia”. São dez segundos nesse trecho de encerramento.

Desconstruindo, então, a reportagem:

- 40 segundos para o que a oposição, derrotada, disse sobre o resultado;

- 19 segundos noticiando a convocação para a proclamação do presidente eleito;

- 25 segundos para o posicionamento de Estados Unidos e Brasil a respeito do processo eleitoral;

- 13 segundos para a proclamação e o que disse Maduro;

- 10 segundos para o protesto “contra o resultado”.

Além disso:

- apenas depois de um minuto e dez segundos de matéria o nome do vencedor é citado pela primeira vez;

- apenas depois de um minuto e 47 segundos de matéria a proclamação de Maduro como presidente eleito foi noticiada.

A notícia passada pelo Jornal Nacional não foi, portanto, sobre a eleição na Venezuela, seu resultado, e as motivações e implicações deste.

A matéria foi sobre o que disse a oposição – nacional e internacional – ao não reconhecer o resultado das urnas.

A inversão da notícia é clara, o abandono do grande fato é flagrante, e a tomada do discurso da oposição como olhar principal é flagrante.


Postado no blog O Escrevinhador em 16/04/2013





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