Agora Inês é morta. Mas e depois?


A expressão que faz referência aos amantes D.Pedro e Inês de Castro nasceu em meados do século XIV em Portugal e foi consagrada por Camões em Os Lusíadas. A história conta que a corte lusitana, em uma tentativa de defender seu reino, aproveitando a ausência de seu príncipe, mandou que executassem a bela Inês. Ao retornar de sua viagem, D.Pedro fica sabendo sobre o assassinato da mãe de três dos seus filhos e resolve tomar o reino de Portugal à força, derrubando seu pai D.Afonso IV. Ao se tornar rei, D. Pedro proclama Inês de Castro, depois de morta, rainha de Portugal.
O que vale um título após a morte? Inês não reinou em Portugal e, pior ainda, não acompanhou o desenvolvimento de seus filhos. Refém de cruéis estratégias políticas, ela foi privada de sua própria vida.
Aqui no Brasil, algumas pessoas, mesmo não sabendo da história, usam essa expressão quando se referem a algo irremediável. Confesso que sempre ouvia minha mãe falando que a tal Inês estava morta, mas, achando que era "coisa de velho", não me interessava em saber do que se tratava.
Recentemente comecei a ouvir mais gente repetindo esse provérbio português e passei a me questionar se o país realmente está se prevenindo contra os escândalos que são noticiados diariamente pela imprensa. Acho que não.
Quando descobriram "cachoeira goiana" regada de dinheiro público, Inês já estava morta. Afinal, mesmo com a condenação dos responsáveis, acho improvável que os milhões de reais desviados sejam ressarcidos integralmente aos cofres públicos.
E se Inês ainda não estivesse morta, mas precisasse de uma UTI em um hospital público para sobreviver, provavelmente morreria esperando. Pois a saúde sendo lembrada apenas nas campanhas eleitorais, vai ficando cada dia mais sucateada, não podendo ajudar quem depende dela.
No Brasil, parece que Inês sempre esteve morta. Mas nem tudo são lágrimas. Afinal, quando lemos nos jornais as tantas notícias sobre corrupção, significa que estamos encontrando pistas que nos levarão ao corpo da rainha morta. E, como em qualquer série policial, esse é o primeiro passo para a solução do crime.
Descobrir escândalos políticos é algo revoltante, que gera muita indignação na população. E esse sentimento é essencial para que a juventude de hoje não eleja os mesmos políticos amanhã. Para que essa jovem e bela lusitana não torne a ser assassinada, dia após dia, é fundamental formar cidadãos com consciência política. Sendo assim, talvez o país, ao invés de descobrir os casos de corrupção, passe a prevenir esse tipo de crime.
Rodolfo Melo é formado em matemática e escreve para o blog História da Estória.
Postado no blog Brasil 247 em 06/06/2012

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