Numa edição do jornal do SBT o apresentador Carlos Nascimento fez uma comentário sobre as notícias da semana, encerrando com a frase “Nós já fomos mais inteligentes”.
Acompanhei a semana da “Luíza na internet” através das redes sociais e tudo foi muito tenso. Na mesma semana tivemos o assunto do estupro no BBB, o início da barbárie da desocupação do Pinheirinho, manifestos contra o SOPA e PIPA e a piada da Luíza que estava no Canadá.
Foto de sualk61 no Flickr em CC, alguns direitos reservados.
Foi uma semana muito difícil. Falar sobre violência contra a mulher nunca é um assunto fútil e nossa lista e blogs nunca tiveram tantas mensagens e acessos. Nos posicionamos contra, pressionamos a rede globo, questionamos a SPM e com isso conseguimos visibilidade sobre um assunto que é um tabu social.
A pressão das redes sociais pelo engavetamento do SOPA (Stop Online Piracy Act), na mesma semana, fez que com que a lei fosse arquivada e provavelmente não retornará da forma original que foi redigida.
Já a ocupação do Pinheirinho, foi discutida nas redes sociais de forma que foi conseguido uma liminar da justiça federal interrompendo a ocupação. (Infelizmente isso não evitou a barbárie do governo do estado de São Paulo).
Tudo isso enquanto a Luíza estava no Canadá. Acho interessante o recorte do jornal do SBT sobre os assuntos da semana. A discussão sobre o estupro, resumiu-se em assistir o BBB. Não estamos discutindo sobre BBB. Estamos falando sobre estupro. Desqualificar a discussão sobre estupro apenas diminui o ato mantendo-o como tabu. Então, desqualificar essa discussão nada mais é do que desqualificar a internet e os movimentos sociais que nela estão inseridos e sabiamente utilizam dessa ferramenta para obter uma voz ao qual a mídia brasileira ignora.
Para quem não sabe, desqualificar é um dos dispositivos da dialética eurística para se vencer um argumento de forma falaciosa.
Todo e qualquer assunto pode ser fútil ou questionador. O problema não é o assunto que se aborda e sim como este está sendo conduzido. Vejamos como exemplo a piada da Luíza que está no Canadá.
  • Pode-se tratar sobre o assunto como uma inocente piada.
  • Pode-se questionar o porque da publicidade introduzir essa frase, na venda de um imóvel ao qual é necessário ostentar uma determinada classe social. Na lógica publicitária, isso informaria que pessoas que vivem nesse apartamento possuem status social ao qual viagens ao exterior são coisas rotineiras. E isso pode causar inclusive discussões antropológicas da sociedade brasileira.
  • Pode-se pensar em como um viral na internet funciona e estudar sua técnica de abrangência por meio das redes sociais.
Não somos mais inteligentes por abordar o assunto A ou assunto B. Como conduzimos o assunto é a grande questão.
Vamos analisar o próprio telejornal. Há sessões que falam sobre economia, política, cultura e esportes. Falar sobre futebol torna o telejornal “menos inteligente”? Falar sobre carnaval torna o telejornal “menos inteligente”? Não, porque depende do discurso e como o telejornal conduz essas informações.
Segundo  Chomsky, Carlos Nascimento utilizou algumas das estratégias de manipulação da mída e numa simples frase conseguiu:
1. Desqualificar os usuários de mídias sociais e o compartilhamento de informações.
2. Desqualificar movimentos sociais que procuram vozes e espaços que quebram o status quo e o modelo dominante.
3. Desqualificar a internet como meio democrático de troca de informações.
Como foi feito?
1. A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO
Porque não mencionar os outros assuntos relevantes da semana? Porque não mencionar que o SOPA ou o Pinheirinho foram alvo de discussões na internet?
2. CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
Criou-se um problema: A internet não é um lugar confiável na gestão da informação. Logo temos a solução: Então fiquemos com o Jornal do SBT e com a grande mídia que são veículos tradicionais e “confiáveis” para obtenção de informações.
3. UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO
Frases de efeitos, são uma estratégia excelente para se causar um aspecto emocional e não reflexivo.
Concluindo, o SBT, assim como a maioria dos grandes veículos da mídia brasileira, estão perdendo espaço para a internet. Um vídeo postado no youtube foi mais comercialmente efetivo do que se estivesse sido colocado na grade do sbt. Desqualificar a internet e seus usuários foi a forma encontrada para induzir seus espectadores a esvaziar a informação trocada nas mídias sociais e nos movimentos sociais. A piada da Luíza não é engraçada para o SBT, pois esvazia seu modelo de rentabilidade através da publicidade. Eles entenderam a piada, mas não há porque rir. E querem nos fazer acreditar que também não temos o porquê em rir. Afinal, eles continuam inteligentes e nós com a internet mais ainda.

Danielle Cony

Feminista, roteirista, questionadora e mãe. Compulsiva por comida e audiovisual. Sempre acha que mundo pode ter uma outra perspectiva, ângulo ou enquadramento.
Postado no Blog Blogueiras Feministas 

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