Um fato curioso que não pode deixar de ser visto como um potencial gerador de decepções no pós-casamento é a questão das pessoas que se casam com o casamento e não com o ser amado. Como assim?
Este é um fato que eu tenho observado há anos e atualmente é um tema que pipoca nas conversas quando eu o cito.
Muitas pessoas sofrem desse mal, “a idealização do relacionamento”, quando se trata de casamento oficial, aquele onde assinam um documento, a coisa fica ainda pior.
Love Ring. Foto de tuffo_diving_take no Flickr em CC, alguns direitos reservados.
Falo sobre as pessoas que idealizam sozinhas um modelo de relação, e passam a ansiar por vivê-la, como um roteiro de novelas e ficam esperando que apareça um par que se encaixe, que sirva naquele sonho cor-de-rosa, são aquelas pessoas que se casam com o casamento, com o fato ser uma pessoa casada, com todas as fantasias que estão contidas neste tema, com o ideal vendido pelo comercial de margarina, onde o que menos importa na verdade é o conteúdo do ser que se tem ao lado, ele passa a ser apenas um figurante necessário para tornar o sonho realidade.
Talvez o grande vilão deste tema seja justamente a frase final de todos os contos de fadas, que dizia: “casaram-se e foram felizes para sempre”, incutido desde cedo na cabeça das crianças gerando um impossível ideal de perfeição, desse modo, crescem acreditando que um dia surgirá uma pessoa perfeita, que nasceu para fazê-lo feliz, uma metade que o completará como uma peçinha de quebra-cabeças, com encaixe total, realizará num passe de mágicas todos os seus sonhos e carências e o(a) salvará da solidão.
E a partir disto, para muitos, o casamento vira uma obsessão, e perde o seu real significado, que deveria ser a comunhão com o ser amado, pelo amor e identificação de valores, objetivos, gostos com a pessoa que está ao lado e passa a significar e ser projetado como um objetivo a ser perseguido e atingido, uma conquista, um passaporte para a felicidade, um status, uma qualificação, a solução de seus problemas.
Há pessoas que dizem : “antes separada do que nunca casada”, como se o fato de ter ostentado o título casada(o) valesse mais do que viver uma boa relação com o ser amado. Posso aí fazer uma comparação aos tempos onde se compravam Títulos de Nobreza, onde o título valia mais do que a própria riqueza, que muitas vezes não existia, nesse paralelo quero comparar o título de casado que não necessariamente significa uma relação feliz.
E é aí mesmo onde os problemas começam, pois a pessoa se casa com a idealização da fantasia, com uma ilusão e não com a pessoa de carne e osso, e quando ela enfim realiza este sonho e as coisas passam a acontecer diferentes do que ela idealizou e planejou, o castelo de areia começa a ruir, e a conta começa a ser cobrada do outro a, a conta do quanto custou aquele sonho em concessões e projeções. Este é um dos motivos porquê tantos casamentos acabam antes mesmo do segundo ano, porquê a pessoa não se casou com o parceiro (a), se casou com o que achava ser o casamento.

Daniela Ervolino

Psicóloga, Terapeuta de Casais, Especializada em Terapia de Vida Passada e Constelações Familiares e Relacionamentos.





Postado no Blog Blogueiras Feministas em 08/01/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário